c a i x a p r e t a | 29.01.2015

Dandara de Morais
2 min readJan 25, 2020

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escrito num dos blogs públicos que transformei em privado e agora tô liberando porque sempre tive essa vergonha de compartilhar meus pensamentos né?

d a n d a r a d e m o r a i s

escrito 29 de janeiro de 2015

reescrito em 25 de janeiro de 2020

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Ontem fui fazer um exame e um enfermeiro me disse: “eu tenho uma amiga Dandara também” e eu, que incluí nas resoluções para 2015 tentar ser mais simpática em todas as situações respondi: “que legal! e como ela é?” ele disse “assim, morena como você, cabelo cacheado…”. Morena. Pausa. O rapaz era negro, e notavelmente alisava o cabelo pra fazer um corte no estilo moderninho.

Achei legal o cabelo dele, apesar de não poder saber se é fruto da opressão para alisar os cabelos crespos. Mas, eu, no fundo do meu egocentrismo (descobri que sou egocêntrica, e esse é um grande problema que afeta minhas relações e visão de mundo) me pergunto como alguém negro descreve outra pessoa da sua cor como moreno. Essa questão de “amenizar” a negritude clareando a cor em uma palavra, é uma das que mais me incomoda dentre todos os comportamentos e ideias racistas.

Ontem também tive uma discussão com um amigo que se referiu às mulheres que ele pretendia pegar como “as nega”. Tentei fazer com que ele enxergasse que usar essa palavra para se referir a uma ou várias mulheres é de um racismo absurdo e também machistas. Somos chamadas de nega porque os homens acham que podem fazer o que quiserem conosco, assim como faziam os senhores de engenho com suas escravas negras tidas como suas propriedades, e muitas vezes abusadas sexualmente.

Percebo que qualquer aproximação da palavra negro ou negra soa como negativo. “Humor negro”, “lado negro da força” e muitas outras expressões que fazem parte do cotidiano, só contribuem para perpetuar o pensamento de que ser negrx é algo ruim. Chamar alguém de negrx pior ainda.

Eu nas minhas reflexões chego a conclusão que não devo mais usar palavras que foram apropriadas para expressar algo negativo, por mais que soe inocente é algo que nunca será. Sempre terá algum contexto histórico em que há o opressor e oprimido, e eu, com meus ideais utópicos sobre a sociedade, me recuso a abrir a boca para expressar um descontentamento atrelado à palavra negro. Torço para que algum dia o meu egocentrismo deixe de ser meu, e sim, casado com as ideias de um mundo real.

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